domingo, 18 de outubro de 2009

DEIXEI DE SER AQUELE QUE ESPERAVA

Vamos de Fernando Pessoa:


Deixei de ser aquele que esperava,
Isto é, deixei de ser quem nunca fui ...
Entre onda e onda a onda não se cava,
E tudo, em ser conjunto, dura e flui.


A seta treme, pois que, na ampla aljava,
O presente ao futuro cria e inclui.
Se os mares erguem sua fúria brava
É que uma futura paz seu rastro obstrui.


Tudo depende do que não existe.
Por isso meu ser mudo se converte
Na própria semelhança, austero e triste.


Nada me explica. Nada me pertence.
E sobre tudo a lua alheia verte
A luz que tudo dissipa e nada vence.


Nenhum comentário: